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O que acontece quando o amor vira prisão?

O que acontece quando o amor, que deveria ser liberdade, transforma-se em uma prisão? Quando o que deveria ser leveza e companhia torna-se peso e sufocamento? O amor, em sua essência, é movimento, respiro, é aquele lugar seguro onde podemos ser nós mesmos, inteiros. Mas, em algum momento, sem que percebamos, ele pode começar a tomar outra forma. Começa sutilmente, como quem não quer nada, ocupando espaços que não lhe pertencem, exigindo mais do que deveria, até que o outro já não se reconhece mais em si mesmo.


O amor-prisão nasce da carência, da necessidade de controle, do medo de perder. Ele exige presença constante, reassegurações repetidas, como se o amor do outro fosse algo que pudesse escapar entre os dedos a qualquer momento. E nessa tentativa de segurar o que escapa, perdemos a delicadeza, a confiança, a leveza. O que antes era um espaço de refúgio e paz transforma-se em território de angústia, de vigilância constante. Passamos a medir palavras, calcular gestos, prever silêncios. O amor se torna campo minado.


Essa prisão emocional vem acompanhada de um desejo desesperado de fusão, como se a individualidade do outro ameaçasse a relação. Na ânsia de evitar o medo da perda, sufocamos o outro e a nós mesmos. Perdemos a autonomia, a capacidade de existir fora da órbita do amado. A dependência emocional, muitas vezes mascarada de amor profundo, revela-se uma forma de controle, uma tentativa de domesticar o imprevisível, de transformar o outro em uma extensão de nossas necessidades. Mas o amor que aprisiona nunca é amor, é medo disfarçado.


O que sobra, então? Sobra o vazio, o cansaço, o esgotamento de tentar caber em moldes que não são nossos. O amor se transforma em cárcere, e o coração, que deveria bater livremente, passa a bater preso ao ritmo do medo. E aí, naquele ponto em que deveria haver união, há solidão compartilhada. Dois corpos juntos, mas distantes em suas dores, presos em uma relação que não mais liberta, mas aprisiona.


Amar deveria ser, antes de tudo, uma escolha de liberdade. Amar é respeitar o espaço do outro, é confiar, soltar. Porque o amor, quando verdadeiro, não tem medo de perder. O amor, que liberta, entende que só se pode amar plenamente quando há espaço para ser, para respirar.


Texto escrito pela Psicanalista Flora Dominguez ❤️


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©2022 por Flora Dominguez

e Celso Araújo

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