Ajuda para me reencontrar
- Flora Dominguez
- 15 de mar. de 2022
- 4 min de leitura
Dei um novo rumo pra minha vida, assim eu achava... Acordava, trabalhava e noitadas todos os dias eu seguia exatamente esses passos. As bebidas alcoólicas eram minhas companheiras inseparáveis elas me faziam esquecer o que eu estava sentindo em meu interior. Queria fugir da dor que sentia por tudo que havia acontecido. Eu vivia a noite, respirava a noite, dormia pouco e tentava fazer daquele instante de distanciamento da realidade minha eternidade. Ria, brincava, beijava todas as bocas que me agradavam ao máximo e depois descartava como se fossem lixos. Passei a usar a minha beleza a meu favor, passei de uma mulher tranquila a uma mulher que desafiava os homens.
Me divertia quando eles falavam que estavam apaixonados por mim, e respondia: É mesmo? Estou emocionada com seus sentimentos, mas você não serve pra mim foi coisa de momento. Eu comecei a me divertir com a dor de cotovelos deles, isso me dava prazer.
Eu colecionei homens apaixonados por mim, quando queria sair pensava em quem poderia me fazer sorrir mais. Minhas colegas diziam que eu colecionava bobos da corte pra amenizar a minha falta de amor-próprio.
Teve um deles que chegou ao extremo, falou que iria se suicidar se eu não ficasse com ele seriamente. Que raiva, que nojo daquele ser insignificante querendo ditar o que eu deveria fazer. Respirei fundo e calmamente disse: Quando vai ser o óbito? Tenho que comprar um vestido preto para o dia do seu velório, ele me respondeu: Estou falando sério Flora eu vou me suicidar se você não me levar a sério.
Eu parei pensei e respondi: Quer alguma ideia para que isso aconteça o mais rápido possível? Ele se espantou e eu me levantei e disse: Me aguarde aqui, fui no armário peguei soda cáustica coloquei em suas mãos e disse comece a se matar eu quero assistir um controlador maldito como você se estrebuchando na minha frente. Ele saiu e nunca mais me importunou. Quando meus conhecidos ficaram sabendo que eu havia feito me chamaram de louca e me perguntaram: Caso ele se matasse na sua frente o que você faria? Eu respondi: Ele não faria, ele só é um babaca maldito que usa do drama pra manipular as mulheres que ele quer, conheço esse tipo e não vou admitir que façam comigo o que já fizeram. Eu só queria mostrar que não era uma mulher que amava demais pra mim mesma através dessas atitudes. A dor estava ali viva com reações adversas.
Essa fase de minha vida foi prolongada. Estava vivendo todas as minhas dores intensamente fazendo os outros sofrerem, isso me alimentava mas era somente uma ilusão. Adorava passar a imagem de uma mulher sensível e depois usá-los assim como eles faziam com várias mulheres.
Não era pra ter prazer pois não ia para cama com nenhum deles, eu tinha nojo os desprezava por falarem tantas mentiras, vinguei muitas conhecidas depois de terem sido usadas e abandonadas por algum deles depois vinha a dor não queria senti-la, mas ela estava ali em cada ato de vingança.
Com o tempo me olhava no espelho e não me reconhecia mais, eu detestava olhar em meus olhos eu via a dor que estava ali pra quem quisesse enxergar. Minha vida passou de tranquila pra intensa demais, tinha que ser assim pra eu suportar tudo. Fui demitida, não rendia mais pra firma, as pessoas só prestam quando estão bem, eu ficava revoltada com tanta falta de comunicação dos que me cercavam, elas não queriam ter trabalho em perguntar e eu passei a não querer ter trabalho pra responder.
Fui trabalhar em uma boate como garçonete eu já vivia a noite mesmo pra mim foi maravilhoso naquele instante de minha vida, dormia o dia inteiro e vivia intensamente a noite como se o dia não fosse mais chegar. Era fato que o dia me trazia recordações e a noite encobria minha infelicidade. Meus sentimentos não eram importantes para quem eu amei porque seria para os desconhecidos? Eu não tinha mais essa ingenuidade e foi essa maneira que achei de gritar que estava sofrendo.
Chamei a morte várias vezes mas nem ela me quis, ela só quis o que eu não queria lhe entregar e continuava negando isso a ela através da dor e da negação que estava ali presente em todos os meus atos. Minha alma sofria dilacerantes dores mas eu tinha que seguir a vida.
As pessoas vivem mecanicamente e muitas das vezes nos causam sofrimentos que nos atinge de um jeito que seria melhor levar mil tapas. Pra mim foi muito difícil chegar a conclusão que mesmo com meus atos de agressividade com as pessoas era porque eu amava demais, eu continuava amando demais.
Eu tentava entender muitas das minhas experiências traumáticas, meu relacionamento afetivo com meu pai que era meu ideal de homem era um fracasso = com meu marido = morte de minha filha. Aos 20 anos tinha vivido mais que muitos. As pessoas que eu confiei traíram minha confiança e me causaram dor e me deixaram ali sozinha pra curar as feridas. O pior foi chegar a conclusão que eu esqueci de mim o tempo todo.
Existem pessoas que nos faz esquecer que somos importantes, ela nos rouba a força, nossas alegrias, nossa confiança, nosso eu. Por amar demais eu me dei sem limites e sem limites as pessoas se acham no direito de fazer o querem com nossas vidas e por causa de nossas dependências afetivas nós autorizamos sem discutir porque temos medo de perder, medo de ficar só, medo de não sermos amadas e desejadas. Esse medo nos leva a pedir o que não queremos, nos faz perder a voz.
Eu estava sendo destruída e o universo estava sofrendo as consequências de minha destruição e isso ficou bem claro quando um amigo me presenteou com um livro sobre o Amor, eu coloquei fogo na frente dele e disse chorando: Nunca mais faça isso comigo, nunca mais me dê um livro dizendo que o amor não faz sofrer, nunca mais me fale ou escreva essa palavra perto de mim. Ele ficou ali calado me vendo chorar sem saber o que fazer.
Eu só queria parar de sentir dor e ser feliz.
Eu queria ir em busca de mim mesma, mas precisava de ajuda para me reencontrar.
Texto extraído do livro: A mulher que amou demais capítulo 4 - Autora: Flora Dominguez
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