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Entendendo o Papel dos Genes no Transtorno Bipolar

O transtorno bipolar é uma das condições psiquiátricas mais estudadas e, ao mesmo tempo, uma das mais complexas de entender. Uma característica marcante do transtorno bipolar é a forte influência genética em sua origem. Estima-se que entre 85% a 90% das variações nos sintomas do transtorno bipolar sejam devidas a fatores genéticos. Isso significa que, comparado a outras condições como as doenças cardiovasculares, que têm uma influência genética bem menor (entre 25% a 35%), o transtorno bipolar é fortemente impactado pelos genes.


Como os Genes Influenciam o Transtorno Bipolar?

O transtorno bipolar é um exemplo clássico de uma doença poligênica multifatorial. Isso quer dizer que ele é causado por múltiplos genes (poligênico) e também é influenciado por fatores ambientais (multifatorial), como estilo de vida, estresse crônico e exposição a eventos traumáticos. Diferentes tipos de alterações genéticas podem contribuir para o transtorno, incluindo o que chamamos de variações no número de cópias (CNVs), que podem ser herdadas ou novas mutações que surgem na pessoa.


Desafios na Psiquiatria e Genética

Apesar dos avanços na genética, a psiquiatria ainda enfrenta desafios significativos em beneficiar-se desses avanços. Diferente da oncologia, onde marcadores genéticos e mutações são claramente ligados a tipos específicos de câncer, na psiquiatria ainda não temos biomarcadores específicos para transtornos mentais. Isso significa que ainda não é possível fazer um teste genético que definitivamente indique a presença de transtorno bipolar ou qualquer outra doença mental.


A Importância da Genética para o Futuro do Tratamento

Embora ainda não possamos usar a genética para diagnosticar transtornos mentais com precisão, entender os genes envolvidos no transtorno bipolar é crucial. Isso pode ajudar no desenvolvimento de tratamentos mais personalizados no futuro, movendo a medicina de uma abordagem geral para uma mais personalizada. O National Institute of Mental Health (NIMH) dos EUA, por exemplo, está tentando mudar a forma como pesquisamos sobre transtornos mentais com seu projeto Research Domain Criteria (RDoC). Este projeto visa compreender melhor os processos biológicos básicos que estão por trás dos transtornos mentais, em vez de apenas categorizar os sintomas.


Conclusão

O transtorno bipolar é um campo de intensa pesquisa genética, refletindo a complexidade e a heterogeneidade da condição. Embora os desafios sejam grandes, os avanços na genética oferecem uma promessa de tratamentos mais eficazes e personalizados no futuro. Entender a genética do transtorno bipolar não só ajuda a desvendar os mistérios de sua origem mas também aponta para novas abordagens no manejo e tratamento da doença. A jornada da pesquisa ainda é longa, mas cada descoberta nos leva um passo adiante na luta contra essa condição desafiadora.


Referências:
Kapczinski, F., & Quevedo, J. (Eds.). (2016). Transtorno bipolar: teoria e clínica (2ª ed.). Porto Alegre: Artmed.

Artigo escrito pela psicanalista Flora Dominguez.




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