O Peso Que Nunca Foi Seu
- Flora Dominguez
- 8 de fev.
- 2 min de leitura
você carrega um fardo
que não é seu
o medo da sua mãe
as expectativas do seu pai
as dores de quem veio antes de você
você cresceu aprendendo
que precisava ser forte
para compensar a fragilidade dos outros
cresceu acreditando
que sua felicidade era egoísmo
que seu cansaço era frescura
que sua dor não importava
mas até quando você vai carregar
o que nunca te pertenceu?
Passei a vida tentando ser aquilo que os outros esperavam de mim. Aprendi cedo que agradar era mais seguro do que questionar. Que engolir as próprias dores era mais aceitável do que ser um incômodo.
Eu achava que precisava ser responsável por todos. Pelas emoções dos meus pais. Pelo bem-estar dos meus amigos. Pela felicidade de quem estava ao meu redor. Mas nunca me perguntei: "E quem cuida de mim?"
Foi na terapia que aprendi que grande parte das nossas dores vêm daquilo que aprendemos na infância. Crenças que não escolhemos, mas absorvemos. A necessidade de agradar. O medo da rejeição. O sentimento de não ser suficiente.
Carregamos pesos que não nos pertencem e chamamos isso de amor.
quando sua mãe chorava
você tentava fazê-la sorrir
quando seu pai se irritava
você tentava não ser um problema
você aprendeu que o amor
era um fardo
que precisava ser sustentado
mas ninguém te ensinou
que o amor de verdade
não pesa.
Demorei a entender que não era minha obrigação consertar o mundo. Que não era meu dever segurar os cacos das dores alheias.
Eu não precisava me responsabilizar por sentimentos que não eram meus.
Foi difícil aceitar isso. Ainda é. Porque, por muito tempo, minha identidade foi moldada pelo que eu fazia pelos outros. O que sobraria de mim se eu não fosse aquela que resolve tudo?
E então, pela primeira vez, me perguntei: "O que é meu, e o que eu apenas herdei?"
você não precisa ser o pilar
que sustenta todos ao redor
se isso significa desmoronar por dentro
você não precisa dizer sim
quando seu coração grita não
não precisa carregar a dor dos outros
para provar que merece amor
você já merece
apenas por existir.
Hoje, estou aprendendo a soltar.
Soltar a culpa que nunca foi minha.
Soltar a necessidade de ser aceita.
Soltar o peso de carregar emoções que não são minhas.
E pela primeira vez, meu corpo respira leve.
Se este texto chegou até você, talvez você também esteja carregando fardos invisíveis. Talvez tenha passado a vida sentindo que precisava segurar tudo para não decepcionar ninguém.
Mas a verdade é: você não precisa.
Você merece uma vida onde o amor não seja um peso.
Uma vida onde você possa simplesmente existir.
E tudo começa quando você decide colocar o peso no chão.
Texto escrito pela Psicanalista Clinica Flora Dominguez

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